quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

sonhos de um novo ano...

um suspiro estrangulado no fundo do peito aflito.
eu queria saber de onde vem tal desespero.
fim do dia se avizinha, fim-do-ano, fim de um ciclo...
e os sonhos continuam os mesmos...
é até vergonhoso admitir, mas continuo buscando aquele amor que me roube todo o ar em suspiros; que me preencha por inteira, preencha cada poro, cada lacuna de incerteza; um amor que me faça chorar, de tanta perfeição; um amor que só existe em meus sonhos retrógados...
e enquanto não o encontro, me perco em idealizações de seres que mal conheço...
palavras podem conquistar meu coração... por que os supostos interessados não enxergam isso?

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

saemi.

uma garotinha.
apenas quinze anos.
lutando contra o mundo, e contra si mesma.
lutando contra a ânsia de provar os lábios de pietra, lutando contra a aparente anomalia de seu ser.
quase uma interiorana, inocente e cheia de preconceitos.
e então, ela apareceu. saemi.
nipo-descendente, magra, alta, altiva e lânguida.
sua primeira aparição, uma tarde nublada de janeiro ou fevereiro.
parada, do outro lado da rua, esperando que o semáforo lhe fosse favorável, para poder atravessar, e seguir seu caminho.
cena de filme. o vento, soprando repentinamente, brincando com seus cabelos negros. um único raio de sol, justamente sobre sua figura esguia, vestida desleixadamente, como um garoto.
e ela atravessou, enfim, e desapareceu como um fantasma. sem nome, sem endereço, sem personalidade.
o coração da pequena em desespero, batendo descompassado, perdido em devaneios amorosos sobre a figura que vislumbrara tão fugazmente.
...
uma casa noturna. saemi, novamente.
a pequena já estava um tanto alcoolizada, cercada por pessoas vulgares e sem nada a lhe acrescentar. mas ela simplesmente não sabia de tais fatos. apenas aproveitava o botão de sua imatura adolescência.
do pulso, escorria um pequeno filete de sangue, obra sua, brincando de mutilar-se com uma navalha.
perguntou o nome do anjo que lhe assombrava, logo o soube, o nome que lhe ficaria tatuado na memória eternamente; saemi queria conhecer o lugar, mas sentia-se deslocada.
a pequena, cheia de coragem insuflada pela bebida, tomou a pequeníssima, alva e delicada mão de saemi, e a levou para conhecer aquele antro de jovens perdidos. saemi não mais retornou àquele lugar, mas sua aura entorpecente continuou pairando por lá durante semanas...
...
'por deus, ela é minha vizinha!'- pensou a pequena, em êxtase.
ela encontrava saemi quase diariamente, e nem tinha idéia da personalidade daquela boneca-gueixa.
rejeitava ferozmente o que lhe diziam, que sua adorada saemi entregava-se à amores impuros como os que lhe inspirara. ela sequer tinha coragem suficiente para se aproximar um pouco mais da sua adorada.
depois, pôde conhecer o âmago boêmio daquela que lhe inspirara as mais belas poesias, mas ainda assim o encanto não se desvaneceu jamais.
guardou um maço de cigarros meio-vazio, uma página de agenda, como as mais preciosas relíquias, e insistia em não aceitar o que sentia, e sequer pensar em macular a santidade profana da sua deusa.
então, saemi desapareceu, definitivamente. para longe demais, onde sequer seus sonhos a alcançariam.
anos depois, reviu de relance, saemi, braços dados com um rapaz insípido.
o sentimento enterrado se reavivou.
saemi ainda é um fantasma, mas terá eternamente seu lugar insubstituível no coração daquela que outrora negou o que era, e graças à ela, tempos depois, obrigou-se à aceitar.
onde estará saemi?

domingo, 28 de dezembro de 2008

cold hands

um mal enxergar através das brumas de vários cigarros extintos...
tatear com mãos geladas em busca de carne quente para as aquecer...
aquecer também o coração gélido que mal bate...
suor escorrendo de corpos frenéticos, ansiosos por algo que lhes complete.
the old in-out, in-out.
vinho em suas veias, pequena poção de visões paradisíacas.
horas correndo como minutos, fugindo pelos dedos como areia numa ampulheta impiedosa.
a aurora multicolor, desvanescendo o sonho de uma noite insone e bem aproveitada.
o adeus.
e um nunca-mais, causado por um destino separador.